reflexões surgidas na insônia da escritora
nenhum lugar é melhor para pensar na própria vida do que os transitórios. direto de um ônibus interestadual (graças à minha habilidade de não enjoar em veículos e ao 4g), trago notícias sem sono do mês que passou, ao qual não apenas sobrevivemos, mas vencemos.
quero falar de todos os sentimentos de outubro, que foi vários meses em um só, de todas as dificuldades e dúvidas que culminaram nos mais belos dias da minha vida ate então. nada se compara ao sol depois da tempestade.
porém não sei ainda como escrever aqui e muito menos o porquê, considerando que nem alcance eu tenho (mas acho que nem é isso que eu quero). sempre que sinto vontade de postar algo aqui, é em tom de atualização, relatando acontecimentos como em um diário, algo que eu gostaria muito de mudar. até porque só recebo ecos de ansiedade.
quando criei esse perfil, tinha como objetivo compartilhar minhas impressões sobre as coisas e dialogar com as mais variadas formas de arte, e fiz pouquíssimo disso. ter virado uma pessoa low profile agravou mais ainda o meu distanciamento, mas a vontade gradual de voltar a ser uma pessoa online me lembrou que existe esse espacinho para escrever, ler e ser lida.
vejo, ou via, a minha própria escrita de forma muito crítica e negativa geralmente, então estar aqui, tentando lembrar do medium e dar uma chance para as palavras, representa muita coisa. especialmente depois de ter defendido o trabalho que me transformou em bacharel, o provável primeiro de muitos que me qualificam na carreira acadêmica. não que eu precisasse dessa validação - o que eu precisava, na verdade, era entender o que eu queria com a minha escrita.
compreendi, no fim das contas, o que eu já antecipava quando fiz uma conta aqui: que escrever não é chato, não é pesado nem cansativo quando escrevemos sobre o que gostamos. além disso, fazer conexões entre pessoas, obras, ideias, lugares e situações pode ser algo leve e gratificante.
nesse sentido, minha monografia foi coerente com o que eu penso que a escrita deve ser/fazer desde as origens do meu escrever, o que me deixou incrivelmente feliz. demora para a gente achar nossa própria voz e acredito que falta muito para consolidar a minha ainda, mas dei passos gigantescos esse ano para despertar essa faceta escritora, antes adormecida. que linda ela acordou!
por isso, volto aqui com a proposta de escrever mais, muito e melhor. a peteca tá no ar e assim espero que continue; assunto não falta para evitar que caia. falando em cair, viram que o grêmio subiu? quem caiu foi o jair, que já vai embora, adeus acima de tudo.
toda despedida é um recomeço, e é necessário fechar ciclos para iniciar outros. a onda não se forma sem as idas e vindas da maré, o mundo não se movimenta sem as idas e vindas das pessoas (não me venha com sentido literal científico, aqui tudo é figurado, em con-figuração), pessoas que não se formam sem as idas e vindas das coisas ao seu redor.
os acontecimentos de ontem, no longínquo outubro, podem servir para que sigamos nessa nossa missão, à procura de quem somos, descobrindo o que queremos fazer, negociando sentidos com o que vivemos. misturar o plural com o singular é lindo demais, não acham? certas partes da viagem são só minhas; imagino que só eu esteja na poltrona 23 do ônibus papa-léguas (esse é realmente o nome) na madrugada da quarta pós-feriado, mas sei que não sou a única em trânsito. muito pelo contrário, e que bom que estamos.