Em nome do Papai
(o conto é da Keletso Mopai, traduzido por mim)
O Papai tem um lugar especial na sala de estar da Titia. Não tem muitas fotos na parede. Tem uma de Jesus pregado na cruz. A do ministro da nossa igreja cristã de Zion. E então tem o Papai, com seu sorrisão e cabelo afro gigante chamando a atenção de todos.
Ele está morto agora. Estamos em 22 de março de 1996, então Papai está morto há quase dez anos. Mal sei algo sobre ele, porque ainda estava na barriga de Mamãe quando ele foi morto. Quem o matou? Não sei. Pergunte para aquele cara Verwoerd do Apartheid; ah sim, ele também está morto. Então não sei. Tudo que sei é que Papai morreu lutando contra o Apartheid. Já perguntei para a minha tia, irmã do Papai, sobre isso, e aceitei que ela também sabe de nada. “O que você vai fazer se descobrir, Mdu? Vai atrás das pessoas que estiveram por trás disso?” ela perguntava.
Então deixei pra lá. Mesmo assim, sempre olho para a foto do Papai na parede antes de ir para a escola. Nem sei por que passo tanto tempo a encarando. Talvez esteja procurando respostas. Ou esperança. Alguma coisa.
Acordando, tropeço no meu primo mais velho, Marothi, no chão. Ele ainda está dormindo, não importa que devemos estar na escola em uma hora. Minha irmã gêmea, Ntsiki, e meus outros cinco primos já saíram. Não tem pão na cozinha, obviamente.
Eu sabia que Ntsiki e eu tínhamos entrado na casa da pobreza no primeiro dia em que chegamos na casa da Titia, um mês após o enterro de Mamãe. Tinha quatro anos quando encontrei Mamãe fora da nossa casa em Mamelodi. Ela estava simplesmente pendurada lá, debaixo da mangueira (observação boba: árvore de manga). O único movimento era o das folhas, uma brisa gelada assoprando suas bochechas pétreas. Dizem que chorei e uivei para que todos meus ancestrais ouvissem.
A casa da Titia não é em Mamelodi, mas no município de Lenyenye, em Limpopo. É onde meu pai cresceu antes de ir para Gauteng. É onde ele está enterrado. E é onde Papai tem uma rua com seu nome. Titia nunca quer falar sobre meus pais. Não sobre o suicídio de Mamãe, não sobre o assassinato de papai, não qualquer coisa.
Quando chegamos aqui, nossa primeira refeição foi samp (milho seco, comida típica do sul da África) branco com atchaar (condimento apimentado, também típico da região) de manga. Titia botou meus seis primos, Ntsiki e eu sentados no chão. Ela colocou uma tigela na frente do seu filho menino mais novo, Daniel, outra na frente da sua filha mais nova, Nomsa, e outra tigela grande na frente de Marothi, o mais velho. Aí ela foi à cozinha sem dizer nada. Ntsiki e eu estávamos sentados lá com fome, esperando as nossas tigelas chegarem. Quando virei para olhar Marothi, vi que meus outros três primos tinham se juntado a ele, comendo do mesmo prato.
Cinco minutos depois, Titia voltou à sala de estar. “Por que vocês dois não estão comendo?”
Olhei para ela, perplexo.
“Vocês acham que são bons demais pra comer com eles?” Balancei a cabeça.
“Comam!”, ela disse, grosseiramente agarrando nossas mãos e empurrando-as em direção à tigela maior, agora vazia.
“Não tem mais”, Ntsiki lamentou.
“Vocês vão dormir de estômago vazio, ke!”
Seis crianças, um prato: o mais rápido a mastigar come a maior quantidade de comida. Titia é uma gênia.
Então hoje, não estou surpreso que não tem lanche para levarmos à escola. O único momento em que ganhamos lanche é na semana em que a Titia recebe o auxílio do governo (child-support grant, um programa do governo da África do Sul).
Andando para a escola, vejo Moshole na minha frente. Ele sempre está balançando sua maleta, para todo mundo ver que seu pai lhe comprou uma. Seu pai nem é um herói ou algo do tipo. Ele só é um agiota, e bebe como se não devesse nada a ninguém. Já ouvi rumores de que o pai de Moshole matou mulheres e homens com seu chefe branco durante o Apartheid. Até hoje, ele ameaça trucidar as pessoas quando elas não devolvem o dinheiro que ele as emprestou. Estou falando a verdade, strubob (é sério), eu já ouvi as histórias. Também entreouvi Titia dizer, fofocando com a nossa vizinha pela grade de arame, que tem fantasmas na sua casa. Só estou te falando o que ouvi.
Passo por Dineo, a Menina Branca, esperando na frente de sua casa grande o mini ônibus da sua escola. Ela não é branca, mas é tão amarelada que seus lábios são vermelhos rosados. Percebo que seu cabelo está bem amarrado com um laço verde escuro. Chamamos ela de “Menina Branca” porque ela não fala Khelobodu como as outras crianças nesse município, apenas Inglês e Afrikaans. É como eles falam na sua escola. Ela nem quer que as pessoas a chamem de Dineo. Ela quer que digamos “Dinny”, porque é assim que a chamam lá. Não entendo isso. Também não entendo por que ela não fala mais em Khelobodu. Quer dizer, não é como se ela tivesse se mudado para outro país onde ninguém sabe a sua língua. De qualquer jeito, ela só começou a ir para aquela escola no ano passado, quando as escolas brancas começaram a aceitar crianças negras.
Eu não vou mentir, eu gostaria de ir à escola de Dinny. Tudo é melhor lá, ouvi dizer. Livros didáticos melhores, salas de aula melhores, professores melhores, banheiros muito melhores. Mas é caro - tão caro que só a Dinny no município inteiro estuda lá. Sua mãe consegue pagar. A minha está morta, e Titia é pobre.
Dinny carrega sua garrafinha cinza embaixo do braço, nem olhando pra mim quando passo por ela. Ela não deveria agir como se fosse melhor. Quer dizer, seu pai é o Tio Abobo, um doido. Ele usa trapos e empurra um carrinho de mão cheio de garrafas sujas por essas ruas todos os dias, murmurando “ah, bo, bo” enquanto saliva escorre de sua boca. Titia diz que ele foi enfeitiçado. Chamamos ele de “Tio” com respeito porque, apesar de sua doença, ele já foi um homem rico e bem-educado, dono de uma empresa de táxi. Quando ficou maluco, sua família inteira o rejeitou.
Droga, Moshole acabou de me ver.
“Mduduza!… Ei, Josia!” ele grita.
No dia 27 de abril de 1986, que em 1994 foi declarado como o Freedom Day (feriado sul-africano), minha mãe me deu o nome Mduduza Zungu Junior. Josia é meu apelido. Inicialmente eu achava que era um insulto à minha aparência — que eu pareço o Josia Thugwane (maratonista sul-africano).
Não sei por que Moshole tenta fazer amizade comigo. Meu melhor amigo, Sporo, diz que ele passa tempo com a gente porque ninguém quer ser amigo dele, porque o pai dele é um assassino; e também para se destacar, para que as garotas percebam ele. Talvez ele esteja certo, já que seu uniforme escolar não tem buracos e tá sempre tão limpo que você pensa que ele usa um novo todos os dias. E eu vejo o jeito que Moshole olha pra minha irmã; olha com aqueles olhos, aqueles olhos ansiosos, e ele acha que eu não sei que ele a deseja.
Ele me chama pela segunda vez, parado no meio da estrada como se ele fosse seu dono. Finjo não ouvi-lo. “Mdu!” ele chama novamente. Ele é bom em gritar; não posso evitá-lo para sempre.
“Sho, mpintji” eu grito de volta, andando mais rápido.
Quando chego perto, ele vê a vasilha vazia que estou segurando atrás dos meus livros embalados no saco de arroz Tastic.
“Você vai ficar na fila por aquela comida de novo hoje?”
Não o respondo. O que ele acha? Que eu estou carregando uma vasilha vazia para a escola pra colocar educação dentro dela?
Eu deveria ser rico. Deveria viver em uma mansão. É assim que eu vejo. Outros filhos de heróis que lutaram parecem ser ricas. Elas vão para escolas privadas. Elas falam inglês em sotaques legais e afiados. Elas passam cartões e dirigem carros. E quando elas aparecem na escola, as outras crianças se curvam aos seus pés. Mas aqui estou eu, segurando minha vasilha amarela, preparado para correr pela minha vida. Cinco minutos antes da hora do almoço, quase todos os alunos — exceto os mais esnobes como Moshole — ficam parados nas portas das salas de aula, esperando o menino metido do sinal ir até a sala da diretora pegar a caneca de lata e a pedra polida. Ele bate alto na caneca, anunciando que é a hora do almoço. A professora nos obriga a rezar antes de comer.
Ninguém realmente reza. Deus pode nos perdoar. Estamos passando fome enquanto ele senta confortavelmente nas nuvens, olhando. Posso ouvir meus colegas murmurando mais rápido do que a velocidade da luz, “ em nome do Pai, do Filho, Espírito Santo, de, de, de, dim, amém!”
Cara, a gente corre. Algumas crianças com pernas lentas tropeçam de cara, e nenhuma criança faminta se importa o suficiente para parar — preferem pular por cima da cara dos seus amigos. Não me preocupo com o fim da comida, contudo. O benefício de ter dois membros da família na mesma escola é que um deles tem que me deixar entrar na fila. A parte irritante é que, se uma das velhas que nos servem verem você fazer isso, elas te envergonharão na frente de todo mundo — “Ei você com o uniforme sujo! Quem você pensa que é? Filho do Patrice Motsepe (empresário sul-africano multimilionário)? Vá para o final da fila e se alinhe com os outros!” — e você tem que andar desajeitadamente até o final da fila. Aí, como se você já não tivesse enfrentado a fila por um bom tempo, as velhas taciturnamente colocam pouca comida na sua vasilha, como se você fosse o responsável pelo humor péssimo delas, e gritam “próximo!”
Nosso governo Mandela é tão generoso, por alimentar crianças pobres como eu. Nas segundas, o lanche do governo é samp marrom com sopa quente e amarelada. Nas terças, pão seco com pasta de amendoim. Como se não nos lembrássemos do que serviram na segunda, nas quartas tem samp de novo, branco com uma sopa quente e marrom. Quinta é pap (outro tipo de alimento de milho) e carne moída. E nas sextas, pap com alface verde oleosa — mas às vezes, se as velhas estão de bom humor, a “Johanne 14” (apelido de alface na África do Sul) é tão bem cozida e deliciosa que você lambe os dedos depois. Hoje é sexta, um bom dia pra se estar vivo e com fome.
Cheguei a tempo na fila. Meus intestinos já formaram um nó a essa hora. Sou o sexto na fila e a minha sala fica longe. Por isso meus amigos me chamam de Josia Thugwane: Corro mais rápido do que óleo de rícino em um dia quente. Quando estava na terceira série, essas quatro mulheres brancas estrangeiras vieram doar comida e água limpa no Dia dos Esportes. Não temos Dia dos Esportes na nossa escola, mas aquele dia tivemos Dia dos Esportes porque pessoas brancas vieram nos visitar. Quando eu consegui um impressionante primeiro lugar na corrida, as mulheres estavam tão felizes que tiraram fotos comigo e anotaram minhas informações em um livrinho engraçado. Elas prometeram voltar para me levarem a uma das escolas na cidade, como a que Dinny vai. Lamento te informar que ainda estou esperando.
Na fila, estou atrás de um dos meninos grandes que estiveram na escola primária por toda sua vida. Essa é a quarta vez que eu fico atrás dele. Ele sempre tem uma conversa desagradável com as velhas.
“Por que você ainda está parado aqui?” uma das mulheres pergunta.
Ele responde na sua voz grossa, “Ghe starter dilo dje? Você não vai me dar mais?”
A mulher tenta ignorá-lo. “Próximo!”
Me aproximo, levantando minha vasilha no ar. No entanto, o grandão me bloqueia e continua firme, olhando para as panelas. “Tu acha que isso vai encher meu estômago? Eu tô com fome. Essa comida não é da tua mãe, mas do governo”. Ele adiciona com raiva, “Nos vemos vocês todo dia roubando as sobras em grandes recipientes para alimentar suas famílias. Me dê mais comida ou então…”
Ou então o quê? Sempre me pergunto. A mulher resmunga palavrões inaudíveis, mas põe mais comida na vasilha dele. Ele sai com um sorriso. Maldito. As velhas têm todo o motivo para sentirem-se intimidadas: ele parece um cachorro louco. Um dos olhos dele não é realmente um olho, é uma bola de gude. Dizem que ele perdeu o olho esquerdo com fogos de artifício durante a celebração de ano novo. Outros dizem que ele mesmo o tirou com uma faca afiada quando era criança, para que pudesse ver a si mesmo através do seu próprio olho. Eu acredito; ele parece ser um idiota.
A fumaça quente das panelas aquece meu rosto ao me aproximar.
“Como você tá hoje, Zungu?” essa sem os dentes sempre me cumprimenta, porque ela conhecia meu pai. Ela afirmava que cuidou dele na creche.
“Estou bem”. Sempre hesito ao pedir por mais, mas dessa vez eu corajosamente digo, “mais, mais Mamazala …”
Ela examina meu rosto, sorri, e então põe mais comida.
“Obrigado, obrigado, Deus te abençoe”, eu digo, me afastando. As velhas estão bem-humoradas hoje. Sem perder mais tempo, dou uma mordida.
Sporo, Matloga e Thapelo me encontram já sentado no nosso banco. Desde a terceira série, ninguém senta aqui a não ser a gente; estamos na quinta série agora. Se encontramos alguém aqui, sabem que têm que se levantar e sair, sem negociações. Meu primo Marothi sempre senta conosco no intervalo, embora seja mais velho que todos nos e esteja na sétima série. Acho que isso acontece porque ele não tem amigos.
Moshole chega com seu lanche. Todos nós fingimos que não vemos as salsichas, queijo e pão que ele abre na nossa frente. Ele nunca nos oferece nada.
Minha irmã gêmea de repente para na minha frente, seu lábio branco como se tivessem o pintado de giz. “Mdu, não consegui comida.”
“Por quê?” pergunto.
“A professora me mandou pegar os óculos dela em sua casa novamente. A comida acabou agora.”
Isso que ela ganha por ser a mais inteligente da turma dela. Eu a dou um pouco da minha, e rapidamente lambo meus dedos.
Moshole está a encarando com aquele olhar irritante. Ele desesperadamente abre a boca: “Isso tá bom, Ntsiki? Você não quer pão?… Suco de maçã?”
Ntsiki olha para a comida que a dei por uns cinco segundos. Aí ela diz para Moshole, “Por favor.”
Ele se levanta e dá a ela todo seu lanche. Ela me olha com cara de desculpa, e desajeitadamente devolve minha vasilha pra mim. Ela sorri pra Moshole, murmura um “obrigada” e sai andando.
Depos da escola, ainda não me surpreende não encontrar comida em casa. Titia está dormindo com Namsa e Daniel debaixo da árvore de naartjie (uma fruta cítrica) que se curva acima da casa de dois quartos. No quarto das crianças, tiro minha camisa branca de uniforme e visto minha camiseta preferida. Nas costas está escrito “descanse em paz eterna, Camarada Mduduza Zungu, 1957–1986”. Na frente está o rosto de Papai, parecendo deprimido. Não está sorrindo como na foto da sala. Gosto dessa porque ele não está fingindo parecer feliz pelo Apartheid.
Meus amigos estão me esperando no portão. Nós vamos caçar latinhas de cervejas, como em todas as sextas em que temos vontade de comer chips com vetkoeks (empadas). No entanto, não somos doidos da cabeça, como o Tio Abobo, que coleciona garrafas sem motivo. Se Thapelo, Sporo, Matloga e eu encontramos garrafas vazias jogadas pelo município, nós vamos ao shebeen (tipo de bar) do Thibo perto do shopping para trocá-las por dinheiro. Thibo nos dá quarenta rande. É o suficiente para comprar um litro de fanta laranja, salgadinho e vetkoeks para nós quatro. Thapelo já começou a nossa missão: ele pega uma garrafa de Hansa da sarjeta e a põe em um saco plástico.
Hoje, nós estamos aproveitando o desejo de Moshole pela minha irmã e seu desespero por amizade. Ele nos prometeu oito garrafas. E já que seu pai é não só um assassino, mas também um bêbado, eu sei que podemos conseguir ainda mais.
Eu frequentemente penso em dizer para Moshole como eu realmente me sinto em relação a ele. Eu penso em deixar ele saber, cara a cara, que ele é só kak (um bosta), mesmo que ele tenha um lanche e um uniforme escolar melhor do que nós todos. Penso em gritar que o pai dele é um kak maior ainda, e que um dia ele será um grande kak igual a ele. Mas hoje não é o dia para isso, já que ele está nos ajudando.
Primeiramente, vamos atravessar a rua de Moshole, a rua Mduduza Zungu, que é a quarta rua após a minha. Vamos lá para pegar o que nos foi prometido. Depois vamos pela rua Apollo. Lá pela hora em que estivermos na oitava rua, a Stadium, sei que seremos ricos.
Um bonito carro Mercedes passa devagar por nós. Quando percebemos o homem branco usando óculos vermelhos no banco do motorista, nós corremos atrás dele, acenando e gritando empolgadamente: “Lekhowa! Lekhowa!” Estamos felizes porque normalmente o único momento em que vemos pessoas brancas é quando vamos para a cidade, onde elas vivem.
Ele balança as mãos e sorri como uma celebridade. As janelas traseiras rapidamente se abrem. Ele está acompanhado: dois meninos que parecem ter a mesma idade que a gente. Ambos estão usando a camisa do nosso time nacional de rúgbi. Ao botarem a cabeça pra fora do carro, o vento sopra seus cabelos macios. Eu noto quão vívida sua risada é, quão felizes seus rostos são.
Então, do nada, os meninos brancos começam a atirar bananas pelas janelas. Dando risadinhas, “pega, pega!”
Matloga e Thapelo continuam acenando pros meninos e pegando as bananas. Sporo e eu desaceleramos e caminhamos. Sporo pega uma pedra e mira no carro, mas erra. Eu também pego uma pedra para atirar no carro, exceto que a pedra é pesada demais, e o carro está longe demais agora, então a solto.
Nós alcançamos Matloga e Thapelo no fim da estrada. Posso ver a fúria no rosto de Sporo. Mas pegamos as bananas, porque nossos estômagos estão roncando. Nós as carregamos pela rua Mduduza Zungu, até a casa de Moshole. Ele está nos esperando no portão com as garrafas.
- nota da tradutora: encontrei essa joia no livro de contos da autora, “if you keep digging”, comprado na viagem que fiz para a áfrica do sul. todos são ótimos e adorei muito o jeito que ela escreve, mas fiquei tão encantada e impactada com esse conto em particular que decidi traduzi-lo na íntegra e postar aqui. minha ideia no medium, daqui pra frente, é postar sobre o efeito que as leituras que faço têm em mim — sentimentos, reflexões, ligações com outras coisas e enfim, falar um pouco da vida a partir dos livros. porque é impossível ler uma história como essa da mopai, por exemplo, e não refletir sobre a série de problemas apontados por ela. tudo nessa história me fez sentir, pensar, me indignar, me emocionar. eu chorei todas as vezes que li e reli esses cinco parágrafos finais. eu nem sei se a tradução dessa parte ficou ok porque estava escrevendo entre lágrimas. mas é justamente por isso que é tão importante escrever coisas assim; por meio da literatura se pode tocar nesses assuntos tão pesados de um modo que, ao mesmo tempo em que nos atinge fortemente, nos conforta e consola. mduduza é um personagem tão sincero e tão humano que me cativou desde o começo. e o mérito é da escritora, que soube usar a dose perfeita de inocência e de seriedade. e bem, quero ouvir de vocês o que acharam do conto também! se alguém quiser o conto no original, é só pedir.
- caso queiram ler mais coisas da keletso mopai, vou colocar alguns outros contos dela que foram publicados na internet, em inglês. tem o Monkeys e Becoming a God, ambos também publicados no livro, e o autobiográfico Storytelling. Também tem essa entrevista incrível do dia 28 de julho, em que ela fala sobre o livro e sobre as motivações dela para escrever. certamente é alguém que vale a pena acompanhar.