do “mouseion” aos museus de hoje
refletindo acerca do futuro do museu enquanto lugar que nos conta sobre nosso passado e presente
na longínqua segunda semana de aula, em março, o texto lido foi da Letícia Julião, intitulado “Apontamentos sobre a História do Museu”. eu faltei essa aula pois tinha uma viagem marcada e acabou sendo a minha última saída de casa antes do país “parar” por conta do coronavírus (ou, pelo menos, antes da ufrgs parar).
nesse texto, a autora faz um levantamento sobre a história do museu no Brasil e no mundo, e ressalta a importância de adequar essa instituição às demandas atuais da sociedade. Julião fala sobre as origens do museu e sobre o surgimento dos primeiros museus no Brasil; segundo ela, esse espaço como conhecemos hoje era muito diferente antigamente, visto que muitas obras grandiosas estavam “guardadas” em coleções privadas de príncipes e intelectuais. é somente após a Revolução Francesa, e especialmente a partir do começo do séc. XIX, que as instituições museológicas ganham força por toda a Europa e consequentemente chegam ao Brasil, sendo nosso primeiro museu o Museu Nacional, criado em 1818.
a autora traça brevemente um panorama do museu no Brasil nos séculos XIX e XX, dando atenção especial ao momento em que é criado o SPHAN, o serviço do patrimônio histórico e artístico nacional, em 1937. a partir daí começa no país a implantação de uma política para o patrimônio cultural, cuja organização e preservação passa a ser de extrema importância — algo que em um primeiro instante parece bom, mas que se mostrou uma medida bastante elitista e redutora da história dos diversos grupos étnicos e sociais brasileiros. nos anos 60 as demandas desses grupos se tornam mais audíveis, e é nos anos 80 que finalmente passam a ser produtores de cultura e sujeitos da história, princípio que vira direito do cidadão na Constituição de 1988.
considerando esse movimento de popularização e democratização da cultura, não só no Brasil mas no mundo todo, os museus começam a passar por um processo de renovação, buscando reformular e expandir sua atuação na sociedade. Julião apresenta diversos argumentos pra mostrar os méritos e as dificuldades pelas quais o museu passa hoje em dia, entre eles o de entender seu papel enquanto um lugar a serviço do ser humano e de se tornar uma instituição social, cultural e educativa; o aumento de museus especializados em vários temas relevantes, e o relacionamento desse espaço com o mercado por meio de empresas e da iniciativa privada.
assim, na atualidade, o museu passa a ter o público como sua principal preocupação e cuidado. entretanto, como fazer com que toda a sociedade se sinta contemplada e representada? como englobar todas as identidades e memórias coletivas dos grupos sociais em um ambiente que, há pouco tempo atrás, contava apenas uma história, que supostamente representava a todos? como escolher, no meio de tantas pluralidades, o que é patrimônio cultural e o que não é? e como evitar que esse patrimônio vire um produto de consumo cultural, um mero espetáculo? a autora traz algumas das respostas que ela considera adequada pra essas perguntas, mas aqui vou deixá-las em aberto. o que vocês acham?
acho que eu já tenho algumas respostas mas vou deixar pra falar mais sobre isso no meu post final do semestre, em novembro :) no mais, recomendo muito a leitura do texto na íntegra pra que se interessa pelo tema. é um texto curtinho, de 14 páginas, e pode ser encontrado aqui.